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A dor dos outros!?

Inevitável falar da tragédia em Santa Maria

Inevitável falar da tragédia em Santa Maria, onde morreram vários jovens por asfixia numa boate. A comoção é coletiva e num coro só reproduz-se o compadecimento, a dor de presenciar tal fato. A capacidade que temos de nos colocar no lugar do outro faz com que entoemos unissonamente soluços diante de questões ou fatos que colocam em xeque nossa existência e desamparo.
Apesar das diferenças compartilhamos uma mesma trajetória onde os ganhos trazem consigo sempre a possibilidade das perdas. Claro, não podemos viver pensando no que de fato pode acontecer, que a qualquer momento estamos sujeitos a morrer, adoecer, mas também a vivenciar enormes alegrias e realizações. Somos sempre pegos de surpresa tanto no presente quanto no futuro e a incerteza do depois tanto pode ser motivo para pânico ou adoecimento quanto razão para aprimorar nossa forma de estar no mundo. Não são os fatos em si que nos desestabilizam, mas a maneira como lidamos com eles.
A aprendizagem que pode embutir uma tragédia como essa é um maior controle sobre as condições de funcionamento de locais públicos, por exemplo. Em relação aos pais dos jovens, só há lugar para chorar a dor da perda e chorar profundamente. Afinal, supomos que a morte deve ser o epílogo da velhice, embora a realidade nos pregue peças como essa. Mas o que aprender com isso? Talvez curtir mais intensamente cada instante posto que poderá ser o último? É possível e suportável viver sempre com essa consciência? Ficar mais atento quanto às condições dos locais que frequentamos?
Quando presenciamos, como nesse caso, a dor dos outros, nos comovemos por que nos enxergamos através do que acontece e vivemos isso tudo como se fosse conosco. Está aí a raiz da solidariedade e da empatia.flor
No entanto, chama a atenção a tendência de escarafunchar as feridas. Sabemos que a mídia tende a explorar os fatos em prol de um ibope que lhe traz inúmeras vantagens financeiras. Mas não aconteceria isso se as pessoas não se sentissem convocadas a continuar revendo o espetáculo macabro reeditado a cada instante na mídia, em busca dos olhares ávidos por tragédias. Uma coisa é solidarizar-se com a dor do outro e outra é inconscientemente cultivar o prazer mórbido de comprazer-se com a dor do outro. Coisa estranha! Qual o limite disso tudo?
O prazer decorrente da alegria é consciente, curtido! Mas o prazer que pode estar embutido no sofrimento geralmente não é reconhecido, mas pode ser identificado na incidência da repetição do espetáculo tanto nas imagens, discursos e pensamentos. A pessoa enlutada repete o sofrimento, através das lembranças do fato e da pessoa que se foi. Relembra sua imagem, vivências compartilhadas que surgem como uma forma de manter “viva” a pessoa junto consigo embora a presença física não exista mais. É um processo psíquico que protege o sujeito da dor dilacerante da perda de forma que ela ocorra subjetivamente de forma mais tênue, na medida em que a estrutura psíquica consiga suporta tal desestabilização. Esse é um processo esperado que mantem-se durante um tempo que gira em torno de dois anos. No entanto, quando o sofrimento através do luto prolonga-se indefinidamente, excedendo esse prazo médio, fazendo com que o sujeito perca a vontade de tocar sua própria vida, é necessário ficar alerta, pois algum processo patológico pode estar em curso, necessitando dessa forma de ajuda profissional.

Chapecó, janeiro/2013
Escrito Por: Návia T. Pattussi/Psicanalista/naviapattussi@gmail.com
Enviado por: MARCOS A. BEDIN
MB Comunicação Empresarial/Organizacional
mb@mbcomunicacao.com.br








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